sábado, 17 de março de 2012

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Acabo de voltar de um funeral.

Eu não conhecia realmente a pessoa que faleceu. Conheço sua filha. Mas, não pude evitar muitas lágrimas e um enorme sentimento de impotência, aliado a um vazio emocional de se instalarem.

Somos todos incrivelmente prepotentes. Acreditamo-nos alguma coisa importante na vida...não sei qual era a profissão daquele senhor. Mas, fosse ele um lixeiro, um médico, um professor, o prefeito, o presidente, estava lá, inerte. Com a pele ressequida, da ausência de hidratação, a aparência acinzentada, da falta de circulação. Estava lá, cheio de mãos ao redor. Mãos q o tocavam, alisavam, faziam carinhos. Mãos, q, em gestos rápidos ou bem demorados, queriam dizer do q não foi dito, enquanto se podia.

Somos tão pretensiosos, q nos julgamos detentores do direito de odiar, não perdoar, julgar, não passar por cima, não relevar.

Todos vamos morrer. É a única coisa da qual temos certeza. Mas, sinceramente, espero q morramos livres. Da raiva, do rancor. E plenos, de perdão, de amor, de sorriso, para q as mãos q nos tocarem e acarinharem, dentro daquela urna, sejam mãos de gratidão, pelas vezes em q lhes fomos ombro, em q lhes estendemos a mão, em q lhes desejamos bom dia, agraciamos com um sorriso ou lhes fizemos transbordar de amor.

Para aí, sim, descansarmos em paz...


Canção

E chega um momento em q tudo o q se tem é o solfejar da mesma canção, baixinho, renitente nos ouvidos, na mente, no coração. A música diz de um passado sorridente e faz do hoje tão deprimente, que é necessária mais uma dose de ilusão, pois a realidade ainda lateja demais.

E chega um momento em q se canta mais alto, para abafar o som das escolhas, para quebrar o sussurro do "se", q nunca houve, mas, vive, como sombra a assolar. O canto é forte, é de saudade, é de verdade, é de vontade de ter asas, de voar para longe, de voar para onde é possível ser alguém.

Chega um momento em q aquela q vive mentindo dentro de nós, para nos proteger, perde as forças, perde a coragem e chora, pequena, como se envergonhada de não ter realmente cumprido o seu por quê. E então, se canta para q a fantasia de todo não feneça e para q, tbm, por mais q doa o real, ele ainda pulse, em veias mais estreitas, num sangue que arde, procurando novos caminhos, sem os encontrar.

E se a canção se emudecer, ainda restará seu olor, a cadência ritmada, de batuque de funeral, batuque de tambor, de quem já não liga para os orixás, pois, há muito, já se tornou santo, já se enrolou num manto, desce e sobe encostas, descalço, açoitado pelo vivido e guiado pelo emudecido ritmo do viver inacabado.


segunda-feira, 12 de março de 2012

Nua...

Eu gosto do facebook. Gosto de ver fotos, de comentá-las, de que comentem as minhas...realmente, é uma boa diversão.

Mas, hj, o facebook me serviu de tapa na cara, de forma para refletir o tipo de cristã q sou. Há uma amiga muito intensa, muito transparente. Uma pessoa q, em todos os momentos em q precisei, esteve lá por mim. Uma mulher com seus traumas e complexos não escondidos. Pelo contrário. Muito expostos e, exatamente por isso, uma mulher condenada.

Ela diz de experiências vividas e, ao avesso do q a maioria de nós faz, dá nomes aos bois, xinga, esbraveja, chora, se esvai, extravasa naquelas linhas cheias de emoção, sofrimento, revolta, dor...de início, pensei q era loucura tamanha exposição, tamanho mostrar-se a si mesma, sem véu, sem subterfúgios.

Mas, hj, depois de uma postagem das mais doloridas q já li, entendi q aquela mulher estava sendo simplesmente o q Deus quer q sejamos: livres. Livres na dor, no amor, no gozo, no trauma. Aquela mulher estava sendo humana e se mostrava assim, sem cinismo, sem hipocrisia.

Fiquei realmente triste em julgá-la, em concluí-la, sem sabê-la direito. Fiquei triste por me dizer cristã e não imitar o q o Pai fez: não jogou pedra...ngm jogou. Mas, eu joguei. E peço perdão. Na verdade, acho q a invejo. Acho q tbm eu gostaria de nomear todas as minhas revoltas e esfregá-las na cara do mundo, nuas, sem vestes, sem pudores. Tbm eu gostaria de estar nua, mas, livre, assim como vc, Stefannia.


sábado, 10 de março de 2012

Viva!

E quando aquele primeiro raio de sol adentra o quarto e vc sabe q é pra vc, q foi para vc acordar colorido, acordar brilhando, acordar sorrindo, acordar lembrando q tem menino amado, adorado, esperado, no outro quarto, q tem marido precioso, fazendo carinho no seu rosto, te olhando, admirando e agradecendo a Deus por vc, vem a pergunta à cabeça: como eu posso ser tão abençoada?

A oncologista me disse q a série de tumores q se desenvolve em meu organismo pode ser uma somatização de mágoas, rancores, raivas. E, a despeito de parecer um posicionamento de medicina alternativa, para alguns, para mim, fez muito sentido. Havia muita gente de quem tinha raiva, ódio, pq não dizer. Havia gente a quem atribuía meus insucessos, minhas más escolhas...então, comecei a buscar, no baú em q preferi enterrar essas pessoas, quem eram elas, onde estavam.

Tomei coragem e comecei a ligar, dizendo da raiva, ouvindo perdão, pedindo perdão...e fui me sentindo leve, fui me sentindo uma outra, do ontem feliz, q tbm estava enfiado no baú. Conversei com pessoas q, ao contrário de odiar, eu amo...procurei pessoas q já não odeio, simplesmente não me despertam mais nada.

Fiquei orgulhosa de mim. Claro q isso não se tratou de um ato de altruísmo! Eu é q não quero desenvolver tumores com nome e sobrenome, para me fazerem mal...mas, o orgulho veio do fato de ter sido capaz de ouvir vozes q me amedrontavam, q povoavam sonhos maus, de procurar por pessoas q me causaram as maiores feridas q já ostentei, de tocar na ferida e não sentir nada, além de um calo, q me diz: vc já viveu...

O raio de sol q me acordou hj me disse: é dia novo. É dia de misericórdia nova, dia de alegria nova, dia de nova Bruna, dia de ser quente, colorida, brilhante. Dia de ser viva.

Viva!!!!!


quinta-feira, 8 de março de 2012

Tormenta

Não sei se enfraquece o entorpecente ou fortalece a saudade. Verdade é q nas minhas entranhas vc reside, vc dói e grita pelo outrora, q acena da janela, já desbotado, com nuances de inexistência.

Não sei se aumenta a dor ou diminui a força. Verdade é q já não quero olvidar. E ser de vc, em vc é o q faz o sangue correr mais rápido, quente, vibrante. É o q faz a cabeça rodar, como numa dança de frenesi, na qual meu par é vc, o seu cheiro, é o ar, o seu adeus...

Não sei se a realidade esmorece ou a insanidade se concretiza. Verdade é q ouço, em cada canto, sua risada e, no quarto, o ressonar do sono tranquilo, de qdo o sorriso no canto da sua boca me dava a certeza de ser sonho comigo, sonho de mim.

Não sei se sou. Acho q quase não mais. Verdade é q passei à sombra, vagante por seus passos, errante por seus carinhos, arfante por seus beijos, delirante, em qq caminho.