quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Meus moinhos de vento

“...Não sou certinha, não sou calma, não penso uma coisa só, o sangue me corre quente, sou da briga e quero brincar, dou risada alto, falo baixo, tenho explosões de alegria e fico muito, muito triste...”

Embora a mim se apliquem inequivocamente estas palavras, elas não me pertencem. Maitê Proença as registrou, em seu livro “Uma vida inventada”, q, por sinal, extirpa, em absoluto, o estigma da loira, boazuda e burra q assola, muitas vezes, mulheres como ela.
 Hj, escrevi um e-mail para Bina, dizendo q estou vivendo um conflito. Não sei mais quem sou. Há uma infinidade de Brunas gritando, ebulindo, às cotoveladas, querendo, cada uma, ganhar vazão. Uma mulherada inquieta, ansiosa, fazendo arruaça e pedindo passagem...(sem a menor alusão a espiritismo, umbandismo e qq outro ismo correlato). Às vezes, é muito difícil lidar comigo mesma. No e-mail, disse à minha preciosa amiga q, em alguns momentos, sinto q, se me visse em queda livre num penhasco, sequer abriria a boca. Outras vezes, porém, sei q gritaria, pediria a todos os santos, tentaria alcançar galhos, lasquinhas de pedra, qq coisa a q me pudesse ater...contradições de mim.
Qdo era mais nova, eu era muitas! Tantas q meus devaneios não conheciam a monotonia...fui médica, manicure (mulher de médico!!! Com nome, sobrenome e maleta de utensílios), fui dentista, mãe, empresária muito bem-sucedida. Viajava para Grécia, Itália, Paris, Austrália, Canadá e Índia e, na volta, dava palestras a respeito dos lugares. Adotava crianças (numa inspiração de Angelina q, por sinal, era muito minha amiga...) e levantava bandeiras cujos temas nem mesmo conhecia a fundo, na Oprah. Era ovacionada, em reunião da ONU e arrancava gargalhadas, no Programa do Jô.
Minha mãe dizia q tinha mania de grandeza. Eu acho q era necessidade de deixar escorrerem as múltiplas Brunas q abrigava. Veja bem, não se trata de esquizofrenia. Trata-se, pura e simplesmente, de uma urgência incontrolável de sorver tudo, de viver mais.
Hj em dia, sou o q se considera mulher normal. Sou esposa (e amo inegavelmente meu marido), sou mãe (o q me faz, diariamente, lapidada), sou mulher (com cólicas, dores de cabeça, fofoquinhas do bem e indisposições a guardar dinheiro). Mas, elas continuam aqui. As outras...e de vez em qdo, criam um burburinho irritante, se alternam sem avisar, fazendo com q , herculeamente, tente contê-las. A Bruna cristã, q quer o bem e não deseja falar palavrão ou mentir, cede lugar àquela sem compostura, q fica irada qdo alguém mexe com os seus. A Bruna da dieta na segunda, q come granola, toma iogurte e se contenta com uma maçãzinha, fenece, frente à comedora voraz de picanha e iguarias afins. A Bruna dos pensamentos positivos, q enxerga a beleza da vida, baixa a cabeça àquela deprimida, q se sente pequena e inútil sabe-se lá por quê.
Difícil lidar com isso, viu. De vez em qdo, tento chafurdar os porões da minha personalidade (a verdadeira, se é q há uma única) e entender por quê tanto viés, de onde vem tanta faceta...e me perco nessa busca. Vcs já viram uma moça passeando com aquele tantão de cachorro, sendo arrastada pra um lado, pro outro? Sou eu. E, ao q parece, meus cachorros são bichos grandes e fortes.
Bobagem tentar mensurar o q não se sabe. Talvez, deva apenas tentar domesticar meus “auaus”(diria Arthur).
Mas, se querem saber, ainda hj, de vez em qdo, apareço na Oprah...

Um comentário:

  1. Amiga, vc escreve tao bem! Adoro suas loucuras, compartilho de mtas delas.. auhsahsuahu.. te amo, bjo!!

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