Das mais antigas lembranças q tenho, há uma tentativa de poema, escrito para minha avó, em ocasião de seu aniversário. Lembro-me verso a verso e, o final levava ao desfecho de que os céus comemoravam, com seus anjos a voar, cantando parabéns, com champanhe e caviar...
Dá uma certa ojeriza dessas palavrinhas bestas...mas, não se pode cobrar o q o outro não tem, já dizia Saint Exupèry. E eu não tinha nada mais a dizer, senão rimas tolas, vindas de um coração q mais transpirava para escrever, do q se inspirava...
Pois bem. Desta mania, ou bênção, ou maldição da escrita, começou aquele burburinho existente em toda família: Bruninha escreve muito bem...meu pai, orgulhoso, ostentava minhas redações, confeccionadas na escola, como troféus a seu espermatozoide, que galgara o caminho até o óvulo da minha mãe.
Eu gostava, sim, daquilo. Era maneira de me sentir notada, querida. E, além de tudo, era forma de expressar o q, no íntimo, não conseguia se desvelar. Era meio de colocar em ordem, a desordem do ser de dentro.
E, assim, fui crescendo, tomando apego, cada vez mais, às palavras, a um vernáculo tão rico e ridicularizado...havia palavras pelas quais me apaixonava e as usava repetidamente e, até onde não as cabia, encontrava-lhes lugar. Elas faziam elo, anelo, q me levava por através daquela janela, sem sair da cadeira. Eu tinha público imenso e dava-lhes vida, no palco iluminado da minha imaginação quixotiana...pronto. Bruninha, agora, seria poetisa...recitaria em saraus e se embriagaria do ópio acadêmico.
Veio a adolescência. Os conflitos iam além, muito além de quimeras, de estima por esta ou aquela palavra. Veio a morte, a distância, o véu, o fel, tão em desuso outrora, tão reais, neste agora. Bruninha iria se tornar advogada, usando de sua ferramenta amiga de todo o sempre, para persuadir, dissuadir.
Bruninha...desprezo, desesperança, trauma, desgosto, desgraça, insegurança...
Bruninha...pânico, busca, desencontro, desconfiança, temor.
De repente, são 30 os anos passados e elas, sem a menor vergonha de não envelhecerem e demonstrarem a mesma vivacidade do ontem, continuam a me seguir...são companheiras devotadas, me ensinam de carcinomas, de fibroadenomas, de trombose, de casamento, maternidade, falsos amigos, verdade q não deve ser dita.
São 30 os anos da Bruninha e, nesse emaranhado de A,E,I,O,Us, uma palavra pequena, simples e eficaz é no que ela, agora, quer se tornar: FELIZ. Pq VIDA acaba muito rápido e ser feliz com o q se tem é o q importa...o resto é palavra jogada ao vento.
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